Smit, J.. A organização do conhecimento e as humanidades digitais: pontos de interseção, pp. 125-150. In Smit, J. et al (2021). Humanidades digitais, big data e pesquisa científica. Fundação Henrique Cardoso.
Rui Alexandre Grácio [2024]
As HD podem ser consideradas, do ponto de vista genealógico, como resultantes da confluência de uma tripa viragem: a epistemológica, a computacional e a linguística. (Cf. Smit, J. et al (2021). Humanidades digitais, big data e pesquisa científica. Fundação Henrique Cardoso, p. 14).
Epistemológica, porque se trata, no campo das humanidades, de novas possibilidades de construir conhecimento a partir da conversão digital de recursos. [Em todas as disciplinas, tanto em biologia ou literatura, quanto em física nuclear ou antropologia, o objeto estudado é convertido, manipulado, analisado sob uma categoria comum: a informação, objeto de cálculos (Berry, 2011).»
Computacional, porque o tratamento desses recursos supõe o computador, a sua capacidade de processamento e programas que procedam a análises. Neste campo podemos incluir as transformações operadas posteriormente pelo aparecimento da internet.
Linguístico, remete para a conhecida história do Padre Roberto Busa e o lançamento de um «distante reading» que é uma alternativa ao «Close reading». Daí à necessidade de trabalhar ao nível dos Big Data irá um passo.
Uma passagem do mesmo livro que me parece ser um bom de partida para críticas:
«Em resumo, além das vantagens representadas pelo início da computação nas CHS, a progressão para a fase atual representa um desafio – imenso para muitos – da passagem de um modo de produção e escrita do conhecimento caracterizado pela retórica, para um modo de produção subordinado à lógica.» p. 131
«A proposta de uma análise logicista, que se opõe às construções hermenêuticas baseadas em conceitos iniciais insuficientemente explicitados, prioriza a validação lógica do raciocínio que sustenta a construção do conhecimento em arqueologia. Ou seja, sua proposta objetiva a verificabilidade das argumentações pela adoção de uma linguagem formal desenvolvida a partir da linguagem natural na qual as CHS tradicionalmente constroem seu conhecimento.» p. 137
«O logicismo incorporado às publicações científicas corresponde à necessidade de transparência das construções em CHS e ataca ao mesmo tempo o problema da inflação de publicações (em número e volume). Inspirado no positivismo lógico, contrapõe-se aos impasses gerados pela busca utópica da exaustividade, ao separar claramente a representação dos fatos empíricos elementares (constituição de bases de dados) - que sempre será única e dependente da interpretação buscada (hipótese de pesquisa) – e a representação das operações lógicas exercidas sobre os fatos empíricos para chegar a conclusões. O paralelo com as HD, que pregam que o pesquisador “pense como um computador” é evidente quando a formalização é vista como condição necessária para que o processamento digital possa ser efetivado.» pp. 139-140
Última atualização em 9 de abril de 2025