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Lawrence, N. (2025). Humano, demasiado humano — o que nos torna únicos na era da inteligencia artificial. Gradiva

Recensão

Rui Alexandre Grácio [2025]

O livro tem uma componente biográfica forte, uma vez que a narrativa percorre a experiências e os percursos profissionais do autor.
De uma forma geral, a narrativa é interessante e leve, dando informações importantes. Mas o que porventura mais interessa é a tese do autor, aliás anunciada no subtítulo, relativa à questão de saber o que torna os humanos únicos na era da inteligência artificial.
Para responder a esta questão de uma forma mais incisiva, e passando para o epílogo desta obra de 504 páginas, podemos dizer que  o autor pensa que a IA lança desafios, tem possibilidades e carrega perigos, mas há uma incomensurabilidade entre a IA (inteligência artificial) e a IH (inteligência humana). Antes de passarmos a duas citações do epílogo, vale a pena referir a seguinte passagem, pois ela dá, de certo modo, o tom da posição do autor:

“O mundo real é mais complexo do que aquilo que os modelos lógicos simples conseguem representar. Precisamos de lidar com a ambiguidade e o conflito entre regras. Precisamos de assimilar o contexto e de efectuar um juízo de quando as regras poderão ser razoavelmente infringidas, e um sistema especialista baseado na lógica não consegue fazer isso” (p. 92).

No epílogo selecionei duas passagens que dão o tom da posição geral do autor:

“Em Dezembro de 2019, comecei a trabalhar com uma Bolsa Sénior de IA no Alan Turing Institute, financiada pelo Gabinete para a IA do Reino Unido, para investigar as consequências da implantação de sistemas complexos de IA. A ideia da bolsa era abordar a ‘Grande Falácia da IA’, ou seja, essas tecnologias prometem ser a primeira geração de tecnologia de automação que se adaptará a nós, em vez de nós nos adaptarmos a ela. Geralmente, porém, essas ferramentas não são implantadas para capacitar o indivíduo, mas para capacitar as corporações” (p. 488).

“Substituíram o grande homem pelo grande computador. A filosofia deles traz ecos perturbadores de uma anterior tentativa de engenharia social: a ideia de ‘inteligência geral’ tem uma história problemática.
(…) A ameaça que enfrentamos hoje é uma forma de totalitarismo da informação que advém da oligarquia digital e da maneira como essas tecnologias prejudicam a infra-estrutura de informação existente. Os riscos existenciais que enfrentamos advêm da perturbação do nosso ecossistema social” (p. 484).

Eis, pois, algo que justifica o título da obra, onde o autor não se isenta de uma perspetiva crítica, apresentada como corolário da sua própria experiência. Não é uma obra densa nem de reflexão profunda, podendo ser ler lida de um modo ligeiro e agradável.

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Última atualização em 9 de abril de 2025