Han, B.-C. (2022). La expulsion de lo distinto. Herder.
Francisco Welligton Barbosa Jr [2025]
Entre as características que se destacam na sociedade do rendimento encontra-se a ameaça ao outro. Melhor dizendo: a ameaça ao contato com a alteridade. É este o tema principal da obra La Expulsión de lo Distinto [A Expulsão do Outro], escrita pelo filósofo germano-coreano Byung-Chul Han.
Tal ameaça se dá por algumas razões, que podemos nomear. Primeiramente, o contato com a alteridade convoca o indivíduo a desafiar as suas certezas e os ideais neoliberais que orientam os seus modos de viver, tais como o individualismo e o narcisismo. Além disso, o contato com a alteridade se trata de uma experiência cujo fim não se sabe. Este contato resguarda um mistério, e não sabemos como tal mistério poderá nos reverberar. Trata-se de uma experiência da negatividade, uma lógica distinta da positividade, característica do neoliberalismo.
O contato com o outro também resguarda a imposição de um limite em meio a uma sociedade em que aprendemos que não há barreiras, não há limites, que tudo nos é possível desde que nos esforcemos, e que somos os únicos responsáveis pelo que nos ocorre – o que, cada vez mais, contribui para a autoexploração de cada indivíduo, assim como para evitar o contato com qualquer possibilidade que escape à lógica que orienta este modo de vida.
A morte, por exemplo, impõe-nos um limite. No entanto, em nossas sociedades neoliberais cada vez mais deve ser evitada. Isso porque não se controla a morte. Não há escolha diante da morte, senão o próprio morrer. Não se escolhe. Morre-se. Eis o limite.
Também mencionamos os limites impostos pela dor, o que contribui para nos frustrarmos diante da lógica positiva que orienta os nossos modos de viver. Tanto a morte quanto a dor nos impõem a noção de que temos um corpo e que estamos vivos. Convocam-nos a sentir as nossas fragilidades. Elas nos convocam ao presente, ao seu aqui e agora – ao invés de momentos efêmeros em que hiperestimulamos o corpo e a isto lhe damos o nome de "felicidade". É como se vivêssemos hiperestimulados e, ao mesmo instante, entorpecidos diante de nós próprios. A morte e a dor nos obrigam ao contato com o outro em nós próprios e desafiam o sentimento de onipotência outrora hipervalorizado.
Segundo Han, atualmente não vivemos experiências em nossos cotidianos: ouvimos, mas não escutamos; vemos, mas não olhamos; e falamos apenas com quem nos assente concordância. As experiências desafiam o narcisismo característico da sociedade do rendimento, visto que nos possibilitam o contato com o outro em nós próprios. Um contato entre o eu e o outro, ao mesmo instante que também nos convocam a possibilidade de nos percebermos frágeis – tal como citado no parágrafo anterior.
O autor ainda nos aponta que já não há teorias que nos possibilitem narrativas. Estas estão ameaçadas. O que existem são informações, com as quais somos bombardeados a cada instante a partir do contato com as telas, com as redes, com os smartphones, transportados junto ao corpo. Diferente das teorias, que nos oferecem a possibilidade de uma referência para dizermos sobre nós próprios, convocando-nos também um parar, uma espécie de lentidão diante do ritmo acelerado em que vivemos, as informações são efêmeras e seguem uma lógica positiva. Elas não possibilitam experiências – ao contrário, impõem barreiras à vivência de experiências. Se a nossa relação com a teoria nos permite a produção de uma forma a cada corpo, as nossas relações com o efêmero (neste caso, das informações), contribuem para que nos tornemos uma espécie de massa amorfa.
Podemos também destacar um paradoxo relativo à sociedade do rendimento. Nesta sociedade somos convocados a sermos autênticos, segundo uma lógica de que quanto mais autêntico, mais possibilidades de sucesso o indivíduo apresentará nas diferentes áreas da sua vida. Cada um, enquanto empreendedor de si mesmo, deve buscar a autenticidade. É importante frisar que esta noção de autenticidade não carrega em si a possibilidade da alteridade, pois ela converge com a ideia de consumo. Se a vida é compreendida como uma empresa, a autenticidade é o diferencial a partir do qual cada um se expõe e busca se vender aos demais. Um diferencial ao produto que o próprio indivíduo se torna.
Tal venda ocorre, por exemplo, a partir das telas, que funcionam como uma espécie de espelho, a estimularem o narcisismo, assim como a fragilidade de cada indivíduo sobre se está ou não sendo autêntico, se está ou não se vendendo – o que se expressará através do número de likes recebidos, por exemplo.
Ainda sobre as telas, Han, utilizando-se de uma metáfora, aponta-nos que elas são lisas, sobre as quais rapidamente deslizam os dedos, e nos permitem diferentes e rápidos acessos às mais variadas informações, sem oferecerem qualquer negatividade. De acordo com o autor, através das telas contatamos muitas pessoas e nenhuma nos afeta. Estes contatos funcionam como uma espécie de espelho, a estimular o narcisismo. Não por acaso a propagação e o compartilhamento de selfies. Imagens polidas de si próprio, em que o indivíduo tenta expressar qualquer possibilidade de autenticidade para vender a sua imagem a outros. No entanto, sob a polidez das selfies encontra-se um indivíduo que apresenta vazios e feridas. A selfie é uma imagem vazia a representar o vazio do nosso tempo. Uma imagem enquanto um produto a ser consumido.
Também mencionamos um outro paradoxo destacado por Han: nas nossas relações com o âmbito digital e virtual (a internet e as redes, por exemplo), temos a sensação de que tocamos o mundo, quando não o tocamos. Neste âmbito não há objetos a nos confrontarem, a nos oferecerem limites ou barreiras, enquanto o tempo já não apresenta um aroma. Apenas acelera ou se lentifica, entre a hiperestimulação e o tédio. Também pensamos tocar o outro, quando não há sequer corpo a ser tocado. Podemos imaginar que, ao digitarmos palavras, caracteres, direcionadas a um outro, a partir de uma linguagem cada vez mais operacional, conversamos com alguém, e algo nos acontece. Porém, não nos acontece. Não somos arrebatados. Estamos conectados, e cada vez mais conectados a um outro, ao mesmo instante que não entramos em contato com o outro, não vivemos experiências. E, mais uma vez, frisamos que aquele ou aqueles presentes do outro lado da tela mais funcionam como uma extensão e um alimento ao narcisismo do indivíduo, uma vez que lá estão e assentem as suas opiniões. Um espelho. Não os vemos. Não os sentimos. Não os tocamos. Mais parecemos máquinas a conversarem com outras máquinas.
Há ainda grupos ou páginas virtuais sobre os mais diferentes temas, que outrora, por exemplo, se convencionou chamar “comunidades”. No entanto, não se perfazem enquanto comunidades. O que existe são indivíduos iguais a expressarem opiniões semelhantes e a produzirem ruídos. Não há harmonia. Apenas ruídos. Neste contexto, o sentimento de comunidade e a negatividade que esta carrega encontram-se ameaçados.
Tais possibilidades contribuem para o afogar-se do indivíduo em si próprio, ao mesmo instante que o contato com o outro sugere ameaça. É preciso evitá-lo a qualquer custo, ainda que isto nos custe a própria vida.
Em outras palavras: vivemos em uma sociedade da "mesmidade", em que todos parecem iguais. E aquilo que mais temos em comum é: sendo iguais, cada um se autodestrói.
A seguir, apresentamos alguns trechos retirados da obra.
“Hoy, la negatividad del otro deja paso a la positividad de lo igual” (p. 9)
“La expulsión de lo distinto pone en marcha un proceso destructivo totalmente diferente: la autodestrucción” (p. 10)
“(…) lo igual carece del contrincante dialéctico que lo limitaría y le daría forma: crece convirtiéndose en una masa amorfa” (p. 11)
“El terror de lo igual alcanza hoy todos los ámbitos vitales. Viajamos por todas partes sin tener ninguna experiencia. Se ansían vivencias y estímulos con los que, sin embargo, uno se queda siempre igual a sí mismo” (p. 12)
“Heidegger diría que hoy, el ruido de la comunicación, la tormenta digital de datos e informaciones, nos hace sordos para el callado retumbar de la verdad y para su silente poder violento (…)” (p. 15)
“Hoy, la red se transforma en una caja de resonancia especial, una cámara de eco de la que se ha eliminado toda alteridad, todo lo extraño. La verdadera resonancia presupone la cercanía de lo distinto” (p. 16)
“La proliferación de lo igual es una «plenitud en la que solo se transparenta el vacío». La expulsión de lo distinto genera un adiposo vacío de plenitud” (p. 18)
“La violencia de lo global como violencia de lo igual destruye esa negatividad de lo distinto, de lo singular, de lo incomparable que dificulta la circulación de información, comunicación y capital” (p. 23)
“El imperativo de autenticidad desarrolla una obligación para consigo mismo, una coerción a cuestionarse permanentemente a sí mismo, a vigilarse a sí mismo, a estar al acecho de sí mismo, a asediarse a sí mismo. Con ello, intensifica la referencia narcisista” (p. 37)
“El yo como empresario de sí mismo se produce, se representa y se ofrece como mercancía. La autenticidad es un argumento de venta” (p. 38)
“Hoy todo el mundo quiere ser distinto a los demás. Pero en esta voluntad de ser distinto prosigue lo igual” (p. 38)
“Los selfies son superficies lisas y satinadas que ocultan por breve tiempo el yo vacío. Pero si se les da la vuelta, uno se topa con reversos recubiertos de heridas y sangrantes” (p. 45)
“En los tiempos actuales, que aspiran a proscribir de la vida toda negatividad, también enmudece la muerte. La muerte ha dejado de hablar. Se la priva de todo lenguaje. Ya no es «un modo de ser», sino solo el mero cese de la vida, que hay que postergar por todos los medios. La muerte significa simplemente la des-producción, el cese de la producción” (p. 51)
“Cuando se niega la muerte en aras de la vida, la vida misma se trueca en algo destructivo” (p. 51)
“La transparencia y la hipercomunicación nos despojan de toda intimidad protectora. Es más, renunciamos voluntariamente a ella y nos exponemos a redes digitales que nos penetran, nos dilucidan y nos perforan” (p. 59)
“Hoy nos entregamos a una comunicación irrestricta. La hipercomunicación digital nos deja casi aturdidos. Pero el ruido de la comunicación no nos hace menos solitarios” (p. 62)
“La hipercomunicación, por el contrario, destruye tanto el tú como la cercanía. Las relaciones son reemplazadas por las conexiones. La falta de distancia expulsa la cercanía” (p. 62)
“La extranjería es hoy indeseable por cuanto representa un obstáculo para la aceleración de la circulación de información de capital. El imperativo de aceleración lo nivela todo volviéndolo igual. El espacio transparente de la hipercomunicación es un espacio sin misterio, sin extrañeza no enigma” (p. 63)
“Lo que caracteriza la percepción actual es la ausencia de contrariedad y enfrentamiento.
El mundo pierde cada vez más la negatividad de lo contrario. El medio digital acelera este desarrollo” (p. 68)
“También en las imágenes hoy se pierde cada vez más el carácter de lo contrario” (p. 68)
“El orden digital provoca una creciente descorporalización del mundo. Hoy hay cada vez menos comunicación entre cuerpos” (p. 70)
“Lo completamente distinto, inasequible a toda previsión, que no se somete a ningún cálculo y que infunde miedo, se manifiesta como mirada” (p. 73)
“Hoy el mundo es muy pobre en miradas. Rara vez nos sentimos mirados o expuestos a una mirada” (p. 77)
“Al igual que la mirada, la voz es un medio que mina justamente la presencia de ánimo, la transparencia para sí mismo, y que inscribe en el yo lo totalmente distinto, lo desconocido, lo siniestro y desapacible” (p. 81)
“Esa mirada comunica directamente con el otro que hay dentro del yo, con el yo como si fuera otro (…)” (p. 83)
“La sobrecarga narcisista que caracteriza el centrarse en sí mismo nos vuelve sordos y ciegos para el otro. En el ruido digital de lo igual hemos dejado de percibir la voz del otro. Es decir, nos hemos vuelto resistentes a la voz y a la mirada” (p. 84)
“Hoy vivimos una época consonada. La comunicación digital es una comunicación consonada. Carece de misterio, de enigma y de poesía” (p. 87)
“En la caja de resonancia digital, en la que uno sobre todo se oye hablar a sí mismo, desaparece cada vez más la voz del otro. A causa de la ausencia del otro, la voz del mundo de hoy es menos sonora” (p. 92)
“El medio digital resulta descorporalización. Priva a la voz de su aspereza o de su «grano», de su corporalidad, es más, de la profundidad de sus concavidades, de sus músculos, mucosas y cartílagos. La voz es tersada. Se vuelve transparente en cuanto al significado. Se agota por completo en el significante. Esta voz tersa, incorpórea, transparente, no seduce ni suscita voluptuosidad. La seducción se basa en un excedente de significantes que no se puede reducir al significado. Busca la «voluptuosidad de los sonidos significantes» que no significan nada ni transmiten información. La seducción se produce en un espacio en el que los significantes circulan sin que los haya puesto el significado. El significado unívoco no seduce” (p. 92)
“Hoy nos hemos olvidado de asombrarnos (…)” (p. 96)
“La pantalla digital no permite ningún asombro. Con la creciente familiaridad se pierde toda capacidad de asombrarse, que es lo que infunde vida al espíritu” (p. 97)
“Hoy ya no vivimos poéticamente en la tierra. Nos acondicionamos en la zona digital, donde nos sentimos a gusto. Somos cualquier otra cosa que anónimos u olvidados de nosotros mismos” (p. 99)
“Hoy perdemos cada vez más la capacidad de escuchar” (p. 113)
“La herida es la apertura por la que entra el otro. Es también el oído que se mantiene abierto para el otro. Quien solo se instala dentro de sí mismo, quien se encierra en casa, no es capaz de escuchar. La casa protege al ego de la irrupción del otro. La herida rompe la intimidad casera y narcisista abriéndola. Pasa a ser una puerta abierta para el otro” (p. 118)
“La comunicación digital me interconecta y al mismo tiempo me aísla. Destruye la distancia, pero la falta de distancia no genera ninguna cercanía personal” (p. 119)
“Sin la presencia del otro, la comunicación degenera en un intercambio acelerado de información. No entabla ninguna relación, solo una conexión. Es una comunicación sin vecino, sin ninguna cercanía vecinal. Escuchar significa algo totalmente distinto que intercambiar información. Al escuchar no se produce ningún intercambio. Sin vecindad, sin escucha, no se configura ninguna comunidad. La comunidad es el conjunto de oyentes” (p. 119)
“Hoy oímos muchas cosas, pero perdemos cada vez más la capacidad de escuchar a otros y de atender a su lenguaje y a su sufrimiento” (p. 120)
Última atualização em 9 de abril de 2025