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Bruno, Fernanda (2022). Racionalidade algorítmica & subjetividade maquínica, pp. 51-62. In Lucia Santaela, (Org.). Simbioses do Humano e Tecnologias: Impasses, Dilemas, Desafios. Editora da Universidade de São Paulo/IEA-USP.

Destaques

Rui Alexandre Grácio [2024]

«Este texto reúne algumas inquietações relacionadas à racionalidade algorítmica que hoje que governa hoje uma governa série de experiências e práticas tecnologicamente mediadas. No centro dessas inquietações, está o está modo o modo como as como as subjetividades vêm sendo mobilizadas/interpeladas por essa racionalidade.» (p. 51)

«(…) venho propondo a noção de racionalidade algorítmica para designar tanto modelos de conhecimento quanto modelos de gestão de condutas, fundados em algoritmos que capturam e detectam padrões em vastos volumes de dados. (pp. 51-52)

«É fundamental ressaltar que a racionalidade de algorítmica e a epistemologia que lhe é correlata atualizam práticas históricas do colonialismo extrativista e predatório nos métodos abstratos de computação e quantificação (COULDRY e MEJIAS, 2019).» (p. 52)

«O processo extrativista não concerne apenas ao agora das nossas ações e comportamentos, mas também ao seu porvir. A dimensão temporal e preditiva é central neste processo.» (p. 52)

«Venho ressaltando aí uma fantasia de controle e o caráter paranoide dessa racionalidade. O paranóico, diz o escritor William Burroughs, é aquele que quer possuir todos os fatos, inclusive os que ainda não ocorreram.» (p. 53)

«Assim, nossa ação por vir (e também nosso campo perceptivo e atencional por vir) é constantemente antecipada, projetada de modo a aumentar a probabilidade de que o nosso próximo passo seja na direção que os algoritmos sutilmente recomendam. Nesse sentido, o futuro e a ação possível como uma reserva aberta de possibilidades, de encontros e de inesperado são sequestrados nessas micoantecipações cotidianas em ambientes e plataformas online.» (pp. 53-54)

«Numa linguagem epistemológica, trata-se da conversão da nossa experiência em objeto de conhecimento, o que nesse caso é indissociável do processo de extração de valor. Datificação e objetivação andam, assim, juntas.» (p. 54)

«No âmbito das grandes plataformas, a operação central é transformar tudo o que for possível em comportamentos que possam ser convertidos em dados legíveis pelo aparato maquínico da racionalidade algorítmica. (…) Gosto de dizer que os algoritmos não estão interessados em quem você é ou em quem você pensa ser, mas no que faz.» (pp. 54-55)

«Um novo tipo de laboratório corporativo-cientifico está em curso: o laboratório de plataforma.» (p. 56)

«A cultura de experimentos contínuos nos laboratórios de plataforma materializa um dos sonhos da cibernética, que é o de testar suas máquinas e modelos diretamente sobre o mundo, em vez de elaborar teorias e hipóteses que são testadas em condições controladas. Tal perspectiva está diretamente relacionada à força performativa da racionalidade algorítmica, que não está em descrever ou representar fenômenos, mas sim em gerar efeitos e produzir realidades. Venho repetindo que as inquietações que disso derivam não são apenas sobre a ciência mal aplicada, ou sobre negócios desregulados e propagandas, tampouco apenas sobre vigilância e privacidade. É sobre a fabricação de mundos.» (p. 57)

«Em suma, está em jogo uma racionalidade algorítmica que se alimenta e extrai valor dos limites da racionalidade humana.» (p. 58)

«Em suma, não interessa o que o usuário explícita e conscientemente avalia, mas o que o seu comportamento “revela” sobre o seu engajamento e atenção.» (p. 59)

«A interpelação paradoxal da racionalidade algorítmica ressoa operações mais amplas do neoliberalismo que, de um lado, enaltecem o indivíduo e a sua suposta autonomia e, de outro, o precarizam, esgarçando suas redes de proteção, solidariedade e relações coletivas.» (p. 60)

«Por isso, responder a essa interpelação paradoxal implica um cuidado coletivo com nosso ecossistema sociotécnico, com as relações e redes de interdependência que nos constituem. Constituímo-nos todo o tempo nessa relação que mantemos com nós mesmos e com tantos outros — humanos e não humanos — que nos circundam. Em vez de apelar para os fundamentos de um sujeito liberal, cabe afirmar a dimensão coletiva e maquínica das subjetividades (Guattari, 1993) e cuidar coletivamente do mundo que fabricamos e que nos fabrica. Isso passa por pensar modelos de regulação e governança das plataformas digitais, buscando enfrentar monopólios e as imensas assimetrias de poder envolvidas, manipulações deliberadas, cinismos e abusos de toda a sorte, mas passa também por ativar a nossa imaginação tecnopolítica para além das big tehcs.» (pp. 60-61)

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Última atualização em 9 de abril de 2025